São 7:00 da manhã, estação rodoviária de Salvador. Daqui do banco do ônibus a vi pela primeira vez. Seus olhos duros e imponentes me desafiavam. Com duas crianças à barra de sua saia. Pedia dinheiro por não ter outra alternativa. Aposto que se pudesse escolher iria querer ser uma rainha devido ao porte austero.
Entrou no ônibus decidida a não sair sem nenhum centavo com o olhar de quem exigia algum tipo de ação de cada um dos “convidados” àquele momento. Não teve a humildade de pedir, afinal, esse problema não era dela. Nasceu assim, vai ser sempre assim; síndrome da Gabriela de Jorge Amado...
Pergunta: se o problema não é dela, é seu por acaso? Mesmo que ela pedisse com pesar, o problema não é seu! Não foi você quem a colocou no mundo, portanto, também não pode assumir. Mas a mãe dela não teve instrução suficiente para discernir o que era correto ou não. Novamente de quem é a culpa?
Achei um culpado: o governo! Tudo isso que acontece é culpa dele. Se a mãe dela não teve consciência na hora de fazê-la, a culpa é do governo, ora bolas!
Essa situação nos é corriqueira. A dualidade de dar ou não esmola idem. Procurar o culpado da historia, é interessante e um tanto contraditório, às vezes.
Acredito na criação de oportunidades, por mais tortuoso e custeante que seja. Acredito também na educação; somente através dela haverão cidadãos melhor preparados para vida. Parece utópico, admito, mas não vejo outra solução para esse ciclo vicioso, afinal, não estou preparada pra ser “mãe”.